Desde 16 de setembro, o Irão tem sido abalado por protestos generalizados contra as políticas governamentais. Estes protestos foram desencadeados pelo brutal assassinato da jovem Jîna (Mahsa) Amini, que foi espancada até a morte pela “polícia da moralidade”. A duração e extensão das manifestações a todas as partes do país e a quase todos os estratos da população testemunham um profundo descontentamento e raiva que vai para além da rejeição do código de vestuário profundamente restritivo do regime para as mulheres. As causas residem também numa situação social que se tem vindo a agravar há anos para vastos setores da população e na repressão maciça.
Ao contrário de mobilizações anteriores, como a rebelião contra a fraude eleitoral (2009) ou os protestos contra o aumento dos preços dos combustíveis (2019), o principal slogan hoje é “Abaixo a República Islâmica!” Após um mês de protestos, o movimento continua de pé e a alastrar-se.
Em comparação com as últimas décadas, as dificuldades sociais da população iraniana são, atualmente, bem maiores. Mais da metade da população vive abaixo do nível de subsistência sobrevivendo com muitas dificuldades. Os cuidados de saúde são agora ainda mais inadequados do que já eram. Os danos ecológicos são enormes, com escassez severa de água, desertificação e desflorestação que afetam particularmente a população rural, e elevados níveis de poluição atmosférica e hídrica nas cidades.
O que é impressionante e emocionante é que o movimento é liderado por jovens mulheres, incluindo estudantes do ensino secundário. Tudo Isto alimentado pela história das lutas e movimentos das mulheres no Irão desde antes da revolução de 1979. O apoio popular baseia-se num ódio, agora amplamente partilhado, ao regime e à clique teocrática corrupta que domina e explora o país, enriquecendo-se ao ponto de se tornar milionária.
O fato de o movimento ter durado tanto tempo e em tão grande escala, apesar da forte repressão, só pode ser explicado pela raiva sentida especialmente pelas gerações mais jovens. Amplos setores de estudantes do ensino secundário e universitário resistem ao controlo policial e vão para as ruas lutar por uma vida diferente.
A segunda particularidade da atual onda de protestos é que ela se espalhou da cidade natal de Jîna (Mahsa) Amini, no Curdistão, para todo o país. É por isso que o canto curdo “Jin Jiyan Azadi” traduzido para o persa como “Zan Zendegi Azadi” se tornou o principal slogan do movimento atual. No Curdistão, a rejeição do regime teocrático e a luta pela autodeterminação têm uma longa tradição e são fortemente expressas. O que é novo é a escala dos protestos no Baluchistão, onde a opressão social e a pobreza em massa são as piores do país. A repressão manifestou-se, por exemplo, em 7 de outubro, quando mais de 100 pessoas foram mortas a tiro durante uma manifestação na capital provincial, Zahedan.
Não devemos ignorar uma terceira caraterística marcante: Há uma semana que os apelos a uma greve política têm vindo a aumentar, algo que não acontecia há mais de 35 anos, desde o esmagamento dos conselhos de trabalhadores e das organizações de esquerda. Um primeiro setor da indústria petrolífera na província do sul do Khuzistão está em greve há uma semana, evocando a memória de 1979, quando a greve dos trabalhadores do petróleo foi o prelúdio de uma greve geral a nível nacional. No entanto, os dirigentes dos principais sindicatos independentes estão quase sem exceção na prisão.
Cabe apenas ao povo do Irão determinar seu próprio destino, com plenos direitos democráticos e igualdade de género, com liberdade religiosa e secularismo, defendendo os direitos de todas as minorias e trabalhando pela justiça social e económica.
Por conseguinte, apelamos:
– Ao alargamento do apoio internacional de todas as forças progressistas e de esquerda ao movimento de protesto e revolta no Irão, contra a ditadura religiosa, pela defesa das liberdades democráticas e pelo desmantelamento da polícia e das milícias que reprimem as liberdades individuais, especialmente as das mulheres.
– A manifestações de solidariedade internacionalista, como mensagens de movimentos de mulheres, sindicatos, associações estudantis, etc., para dar apoio político e moral ao movimento. Encorajamos os sindicatos a discutirem formas concretas de solidariedade com os seus homólogos; universidades a apelar aos seus homólogos para que protejam a vida e a liberdade dos seus alunos; movimentos de mulheres e estudantes para estabelecer ligações com os movimentos no Irão.
– O apoio a manifestações públicas de solidariedade com o movimento, convocadas pelas forças progressistas nas comunidades iranianas no exílio, é crucial.
– O fim de toda a repressão no Irão e que as organizações de direitos humanos investiguem os crimes cometidos pelo Estado para reprimir a população.
– Pelo direito a vistos humanitários, principalmente para mulheres e raparigas perseguidas e pessoas LGBTIQ, que fogem da repressão no Irão.
Mulher, vida, liberdade!
Zan, Zendegi, Azadi
Jin, Jiyan, Azadi
Comité Executivo da Quarta Internacional
18 de outubro de 2022